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“Indústrias criativas são difusoras de visões de mundo”

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Professor, jornalista e pesquisador da Unicap, Juliano Domingues comenta sobre as Indústrias Criativas e sua pesquisa no estado de Pernambuco

 

Por Camila Gabrielle

 

As Indústrias Criativas têm ganhado um amplo espaço no Brasil e pesquisadores de todo o país estão se dedicando a estudos na área. Um deles é Juliano Domingues, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

Ele é jornalista e coordena o Mestrado em Indústrias Criativas da instituição. O professor explicou que este é um mercado estratégico e comentou sobre sua pesquisa que se foca em entender o papel do estado para desenvolver as Indústrias Criativas no estado de Pernambuco.

 

Como começou seu interesse em estudar as Indústrias Criativas?

Desde o início dos anos 2000, tenho me dedicado ao estudo de mercados de mídia, mais especificamente políticas de comunicação. Nos últimos anos, porém, o tema das indústrias criativas foi se mostrando cada vez mais presente em congressos científicos no Brasil e no exterior.

Gradualmente, parte da agenda de pesquisa se voltou a esse assunto, que ganhou um status de “conceito guarda-chuva”. Dentro desse contexto, pesquisadores referência no campo da comunicação passaram a publicar a esse respeito, relacionando as indústrias criativas a políticas de comunicação e de cultura, principalmente pelo papel central desempenhado pelo estado.

Esse movimento demonstrou grande aderência entre aquilo que eu vinha pesquisando e os problemas de interesse das pesquisas em indústrias criativas, o que acabou por consolidar meu interesse pelo tema.  

                       

No seu ponto de vista, qual a situação atual das Indústrias Criativas no Brasil?                        

Ainda há um longo caminho a ser percorrido. O Brasil é, essencialmente, um país criativo, inovador. Entretanto, como transformar isso em ativo financeiro? O grande desafio reside, portanto, no desenvolvimento e implementação de estratégias capazes de transformar essa característica em riqueza.

Esforços nesse sentido indicam certa evolução. Os dados do mapeamento da indústria criativa realizado pela Firjan apontam nessa direção. Mas avançamos pouco. É preciso uma maior articulação entre mercado, academia e estado, sobretudo em relação ao incentivo ao surgimento de parques tecnológicos e de cidades inteligentes e humanas. Proporcionar o surgimento de ambientes propícios a transformar criatividade em riqueza econômica é etapa fundamental desse processo.

Vivemos a sociedade pós-industrial, a sociedade da informação, em que o conhecimento é o principal ativo. Boa parte dos gestores públicos e privados, porém, parece desconhecer essa realidade.

É preciso que estado e empresariado se conscientizem de que esse é um tema estratégico. Uma vez se tornando prioridade, iniciativas nesse campo são capazes de provocar importante impacto social e econômico em curto espaço de tempo.  

 

Qual pesquisa você desenvolve na área?

Atualmente, eu e mais 12 professores-pesquisadores da Unicap, além de dezenas de estudantes de graduação e de mestrado, estamos envolvidos em uma ampla pesquisa sobre as indústrias criativas em Pernambuco.

O objeto de estudo é o Porto Digital e o Porto Mídia. Tratam-se de iniciativas de fomento às indústrias criativas fruto de políticas públicas implementadas há 15 anos que permitem o diálogo entre academia, mercado e estado.

Esse grande projeto abarca subprojetos de pesquisa destinados à investigação da dinâmica e do impacto do desenvolvimento de empresas, produtos e serviços voltados à área de games, audiovisual, design, etc.

No meu caso, especificamente, tenho me concentrado no papel do estado, por meio da formulação e implementação de políticas públicas, no fomento às indústrias criativas em Pernambuco.         

               

Qual a importância dessa pesquisa para a sociedade?

Pesquisas dessa natureza se propõem a apontar caminhos para um mundo melhor. Estou convencido de que um mundo melhor passa, necessariamente, pela relação que mantemos com a produção e a difusão de sentidos.

Ou seja, passa pela comunicação e pela cultura. É por meio dos chamados bens culturais que atribuímos sentido ao mundo e encontramos sentido para nossas vidas. As indústrias criativas são, em sua essência, produtoras e difusoras de visões de mundo e de sentidos. Isso, por si só, justifica adotá-las como objeto de estudo.

 

Revisão: João Guilherme

 

 

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