Aeon Fab Lab atrai público para a criação de produtos e busca reinventar o termo “botar a mão na massa”
Por Matheus Rodrigo
Ao escrever a obra “Makers”, em 2012, o ex editor da revista Wired – que trata de ciência e tecnologia- Chris Anderson, procurava apresentar ao mundo a cultura de inovação e empreendedorismo conhecida como “do it yourself”. O hoje dono de uma das maiores empresas de fabricação de drones profetizava na época a cultura maker como uma das protagonistas da próxima revolução industrial. É possível afirmar que o escritor hoje está feliz em observar a sua aposta se concretizando com crescimento da produção maker ao redor do globo- são mais de 550 espaços makers espalhados pelo mundo.
Mas afinal, o que é cultura maker? O movimento “faça por si mesmo” acredita no poder do consumidor e na capacidade das pessoas em produzirem materiais para sua própria subsistência. É o velho e bom “botar a mão na massa” potencializado pelo acesso a impressoras 3D, uso de softwares para projetar objetos e uma comunidade criativa para auxiliar os produtores mais leigos a criarem produtos para uso próprio.
A produção maker tem ascendido recentemente. Com o advento da internet- estimativas de 2015 da ONU apontam que 3,2 bilhões de pessoas tem acesso ao recurso- a tecnologia tem se tornado mais popular no mundo, atraído o público para participar e opinar e isso é visto como o pontapé para a produção maker.
Hoje a informação está um toque de distância, o que possibilita à população a criação de projetos e a utilização dos conhecimentos acessíveis para ganho próprio.Os espaços makers e os laboratórios de fabricação são exemplos dessa acessibilidade informativa da era digital e estão presentes em escolas, laboratórios, garagens, universidades para atender o maior número de pessoas possível. Os organizadores desses ambientes prestam consultorias, produzem e discutem suas ideias assim como também auxiliam projetos pessoais do público.
Tudo em nome da colaboração. Como explica João Arendi integrante do espaço maker de Bauru AEON Fab Lab, “o movimento maker preza pela ideia de um processo de produção feito de maneira coletiva, trocar experiências com outros makers que também tem o objetivo de aprender naquele espaço e dessa forma, construir e criar projetos em um ambiente colaborativo”.
O AEON Fab Lab, situado na região do centro de Bauru para atender a comunidade, tem atualmente 10 integrantes. Oficinas e cursos são organizados como forma de obter renda para manter o laboratório. Os participantes do AEON são originários de diversas faculdades e cursos da cidade, trabalham de forma voluntária e são incentivados pela crença no projeto. O AEON tem um dia aberto para consultorias e atendimento ao público em geral , aos sábados.
João afirma que o diferencial dos espaços makers é a experimentação: é um ambiente que incentiva a criação, a gente se sente participando de um projeto ‘útil’ para as nossas vidas, não algo destoante e muito específico. O ex estudante de física na Unesp e maker explica que no local essa experimentação também é diversa. “Posso programar todos os dias e criar uma mesa, isso me permite conectar os dois conteúdos e ter uma noção melhor da produção”, comenta.
A comunidade criativa, a produção criativa é vital para a cultura maker. Um espaço repleto de máquinas e equipamentos técnicos não é necessariamente um laboratório maker, que preza pela colaboração e inclusão do público. “É preciso ter uma comunidade coletiva, criativa e participativa naquele ambiente”, João afirma.
Chris Anderson em 2012 era categórico ao apontar o papel do movimento maker na construção de um futuro. Entretanto, o integrante do AEON salienta que para isso mudanças precisam ser feitas e é necessário incluir a cultura maker na educação. “Atualmente, a estrutura da educação tem uma perspectiva formativa sem experimentação. Por sua vez, os espaços makers (fab labs) são uma mudança a isso e incentivam as pessoas a produzirem tecnologias e a aprenderem com a prática”, salienta.
Ainda sobre o futuro, impressoras 3D, softwares, placas robóticas parecem mais um cenário de uma ficção científica futurista de outrora. A linha entre tecnologia e ficção tem se mostrado tênue ao longo da história e com a cultura maker, ela parece estar diminuindo ainda mais. É o que João Arendi afirma: “o que determina as inovações é a vontade do criador maker. Se você acredita em algo que você quer construir, é bem provável que esse algo vai existir”.
Revisão da matéria: João Guilherme D’Arcadia