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Empreendimento universitário e o mundo dos jogos digitais no Brasil

Caio José Ribeiro Chagas, atualmente sócio da empresa “IlexGames”, revela sua trajetória entre uma graduação, um mestrado e empresas desenvolvedoras de jogos digitais

 

Por Rafael Junker Simões

 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que, no Brasil, uma taxa superior a 10% das startups, empresas emergentes, geralmente, de bases tecnológicas, foram fundadas por estudantes ou por recém-formados.

O estudo da Organização utilizou uma base de dados encontrada na plataforma “Crunchbase”, na qual várias startups estão registradas. No Brasil, das 290 startups encontradas, 12% delas, isto é, cerca de 35 foram fundadas por empreendedores que estão na graduação ou são recém-formados.

A revista Fapesp, ao explorar mais a fundo as características das startups fundadas por empreendedores universitários no Brasil, notou que os segmentos como jogos, transportes, educação e comércio on-line são os que mais se direcionam para essas pequenas empresas. Esse direcionamento ocorre, primordialmente, em virtude do baixo investimento demandado por esses segmentos, enquanto outros setores como saúde, energia, alimentos e biotecnologia exigem quantias mais significativas.

Caio José Ribeiro Chagas, mestrando em Mídia e Tecnologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ainda que não tenha fundado startups, se enquadra muito bem como um empreendedor universitário e confirma a tendência ao desenvolver um projeto no segmento de jogos digitais.

A inserção de Chagas no universo das startups teve início durante o curso de

graduação em Desenhos Industriais, também na Unesp, quando foi convidado a integrar a equipe da empresa de games “Mother Gaia Studio”, fundada por estudantes dos cursos de Ciência da Computação e de Sistema da Informação.

A experiência, que teve uma duração de quatro anos, resultou na ascensão para sócio da empresa e participação na criação do premiado jogo “City Rain”, que mescla os jogos clássicos “Tetris” e “SimCity”.

 

Jogo “City Rain” da Mother Gaia Studio/ Fonte: reprodução

 

Em 2016, ingressou no mestrado em Mídia e Tecnologia da Unesp, e em 2017, passou a integrar a equipe da “IlexGames”, onde atua como sócio, o que permitiu a associação das atividades acadêmicas e profissionais.

“As coisas logo se conectaram. Aproveitei o mestrado para produzir um jogo experimental para a empresa, o Lux Ex”, afirma Chagas.

Apesar de a empresa ter como tradição a produção de jogos educacionais, o jogo desenvolvido por Chagas segue uma nova tendência que é marcada por conteúdos de profundidade psicológica, temas como espiritualidade alternativa e processos mágicos.

No jogo “Lux Ex”, desenvolvido para a “IlexGames”, o jogador tem acesso a um “corpo espiritual” e precisa combater alguns vírus para recuperar dados da ancestralidade do corpo.

 

 

Jogo “Lux Ex”, da IlexGames /Fonte: reprodução

Os resultados finais dos jogos da “IlexGames” encantam, mas isso não muda a dificuldade que as empresas independentes de jogos digitais no Brasil têm para sobreviver financeiramente. Muitas startups fundadas por universitários ou recém-egressos que atuam na área acabam não durando muito tempo justamente pela falta de orçamento.

De acordo com Chagas, a “IlexGames” consegue sobreviver em virtude de seu baixo custo de manutenção. A equipe é formada por ele e pelo sócio Marcelo Rigon, que, eventualmente, contam com alguns colaboradores. Além disso, as atividades são realizadas em suas residências e não em um escritório fixo.

Outra dificuldade apontada é que o ambiente dos jogos digitais no Brasil não é o dos mais favoráveis às empresas independentes, principalmente, em razão da deficiência nos sistemas de distribuição e divulgação.

“Atualmente é mais fácil chegar ao consumidor brasileiro por meio do mercado internacional como se fosse um jogo estrangeiro. É estranho, mas é frequente encontrar pessoas que jogaram nossos jogos, mas que não faziam ideia de que a produção era brasileira”, afirma Chagas.

Assim, a estratégia de mercado inclui a inserção das empresas de jogos digitais no cenário internacional, o que também representa um aumento nos custos.             “Alguns desafios são as dificuldades para receber remessas internacionais e uma carga muito alta entre taxas de banco e impostos brasileiros e de outros países”, observa Chagas.

Mesmo diante de um cenário desafiador e com grandes obstáculos, as empresas independentes de jogos digitais no Brasil apresentam um caminho promissor e continuam no mercado com uma produção de qualidade.

A “IlexGames”, por meio de produções encantadoras e narrativas de profundidade associada ao controle de custos em virtude do baixo orçamento, demonstra que os sonhos de universitários dos cursos de graduação e de pós-graduação podem dar início a jornada pelo mundo dos games de forma sustentável.

 

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