O estímulo para a inovação desde cedo: bom ou ruim?
Nathália S Santos
A infância é uma fase em que a descoberta do mundo e o aprendizado fazem surgir uma infinidade de ideias. A cabeça das crianças é como um fervor de imaginação, despejando a todo momento novas interpretações do ambiente e, também, absorvendo o que o mundo tem de ‘novo’. E é nesse momento que pode aparecer uma ideia inovadora, de um ângulo ainda não visto pelos outros.
A criação de tecnologias faz parte da história humana. Desde sempre existiram mudanças fundamentais e essas mudanças proporcionam ,nos dias atuais, algum avanço da humanidade, como por exemplo, o ser humano que criou a roda e revolucionou o transporte, ou Graham Bell com o telefone e a comunicação, até Alan Turing que revolucionou, mesmo sem saber, o modo como o ser humano executa uma série de atividades com o uso do computador.
Às vezes um simples ‘por que?’ pode ser a chave de algo inovador. Sendo assim, o autor e professor de administração, Fernando Dolabela, argumenta que “quando eu falo em empreendedorismo eu não estou falando somente em criar empresas. O empreendedorismo é uma palavra que nasceu na empresa, mas ela transbordou para qualquer atividade, então o empreendedor é alguém que inova, que transforma”.
Dolabela explica também que o ensino de empreendedorismo na infância não é “ensinar uma criança a abrir empresas” é “desenvolver o espírito empreendedor” seja ele em qualquer área do conhecimento.
Já psicóloga Fernanda Pádua Rezende vê uma problemática no caso da precoce inserção das crianças no mundo do empreendedorismo, visto que empreendedorismo, para ela, é “o comportamento das pessoas de se engajarem em algum tipo de atividade nova, diferente daquilo que vem sendo feito, e essa atividade nova é capaz de gerar algum tipo de consequência como dinheiro ou como sucesso profissional. Então empreendedorismo parece se relacionar com um contexto de trabalho, com um contexto de ganhar dinheiro”, isso para Fernanda parece “contraditório quando se fala da infância”, porque na infância a criança “não deveria estar preocupada em empreender nada, no sentido de profissão, porque a tarefa principal deveria ser brincar”.
Fernando Dolabela conta que quando uma criança entra na escola, ela é extremamente criativa e com o decorrer dos anos acaba perdendo o potencial criativo por falta de estímulo, que segundo ele, é muito ruim, porque “a criatividade é a mãe da inovação em qualquer área”. “A decisão se a criança vai ou não abrir uma empresa é dela, mas ela deve ser preparada para ser autônoma”, afirma Fernando.
Fernanda Rezende diz que “a criatividade está relacionada com a variabilidade comportamental, então é a capacidade de uma criança, diante de uma situação nova, ter um certo repertório para lidar com aquela situação. A gente tende a chamar de criatividade quando a pessoa apresenta um novo comportamento, diferente do que seria o habitual”, assim a criança que ‘descobre’ o mundo tem um repertório maior de situações, “então quanto mais a criança tem condições de explorar o meio, maiores são as chances de ela ter um repertório comportamental mais vasto, e maior a chance de a gente chamar ela de criativa”.
Fernanda relativiza os casos de criação em uma análise individual de quem seriam as crianças empreendedoras. O que elas criam? Como elas ‘brincam de criar receitas de sucesso’? Isto varia de cada pessoa. Para ela “criança tem que ser criança, tem que ser tratada como criança. Se a criança é empreendedora no sentido do que é empreendedor para um adulto, precisa avaliar esse contexto”. Se a criança é estimulada ao trabalho e à busca do lucro, Fernanda fala que pode ter “um malefício, uma pressão”. “Agora, se a gente está falando de empreendedorismo na brincadeira, crianças que brincam de criar e construir coisas novas, se a gente está chamando isso de empreendedor seriam crianças exercendo a função de simplesmente brincar”.
“Inovação é um fenômeno de atitude, de cultura, de visão de mundo. Você tem uma pessoa que é capaz de ligar padrões e criar uma coisa diferente”, afirma Fernando. Há alguns casos de sucesso de crianças que empreenderam e já tem lucro com suas invenções. Desde crianças que brincam em vídeos e, assim, têm canais de sucesso no YouTube, como Evan, do EvanTubeHd.
Então é importante frisar no sentido saudável que a criatividade deve ser estimulada e a inovação é consequência de uma criatividade que sabe lidar com novas situações, mas no sentido adulto do empreendedorismo é delicado expor uma criança à tensão adulta, como gerar lucro e demais rotinas administrativas que uma empresa pode oferecer.
Revisão: Camila Gabrielle