Setor que mescla inovação e criatividade tem ligação direta com as indústrias criativas
Por Camila Gabrielle
As indústrias criativas são setores que têm como base a criatividade e a inovação. Dentro deste grande “leque” de áreas do conhecimento que podem integrar estas características, encontra-se a arquitetura.
Este setor é responsável por planejar e fazer o projeto de uma obra tanto nas cidades como em residências, por exemplo, trabalhando junto outros setores, como engenharia civil e design.
Inovar é necessário
Devido ao avanço tecnológico no setor, inovar se torna cada vez mais necessário. A arquiteta Aline Turini ressalta que a globalização e o desenvolvimento dos meios de produção provocaram a concorrência em todas as áreas e produtos. Com isto, o produtor poderia baixar o valor de seu produto – para garantir a venda para os clientes, ou pensar em soluções inovadoras e diferenciadas. Daí a relação entre indústrias criativas e arquitetura.
“A arquitetura tem origem na criatividade, capacidade e talento do profissional, transformando a sua propriedade intelectual em moradias e obras que modificam o dia a dia do cliente em uma narrativa mais encantadora e realizadora”, argumenta Aline.
Visando aumentar esta criatividade e ao mesmo tempo, tornando-se mais sustentável – ou seja, com práticas pensando na preservação do meio ambiente, o termo “arquitetura verde” foi criado.
Segundo Aline, a arquitetura verde “surge no momento em que cada vez mais as construções sustentáveis são necessárias, sendo um conjunto de conceitos e técnicas que influenciam na eficiência desse tipo de edificação. O objetivo é reduzir durante todo o período de execução da obra, danos desnecessários ao meio ambiente, otimizando recursos naturais, levando em consideração condições do clima e do ecossistema.”
O arquiteto Rafael Carvalho aponta alguns desafios em implementar a arquitetura verde. Este tipo de arquitetura contribui para formação de cidades criativas, mais sustentáveis e com melhor qualidade de vida. Para ele, a criatividade e a inovação são os principais motores dessa mudança.
“É imprescindível que todos, independentemente de classe social e econômica, tenham acesso a espaços públicos de qualidade e a equipamentos urbanos eficazes. Sendo assim, acredito que um fator estritamente ligado a essa democratização dos espaços é a política de mobilidade urbana de cada cidade”.
Rafael aponta também a importância de pensar em alternativas sustentáveis e inovadoras para transportes urbanos. “Grandes avanços vêm sendo observados em cidades, principalmente asiáticas, nas quais sistemas complexos de geração de energia, como o caminhar sobre uma calçada inteligente, já são utilizados para impulsionar equipamentos de mobilidade urbana ou para iluminar espaços públicos. ”
O arquiteto argumenta que no caso do Brasil ainda é necessário “dar os primeiros passos”, visando este avanço mais sustentável e aponta algumas soluções.
“Um bom começo para residências e obras menores podem ser os elementos pré-fabricados. Eles, além de diminuir o tempo de construção e consequentemente reduzir os danos ambientais – causados por uma obra em andamento, podem ser fabricadas por indústrias que têm preocupações ambientais. Entre elas, a diminuição de gases poluentes durante a confecção dos elementos, ou cuidados com o descarte e reaproveitamentos de resíduos”, argumenta.
Quanto mais ambiental, melhor!
Rafael Carvalho acredita que muitas indústrias chamadas de “convencionais” se baseiam na exploração irracional de recursos naturais assim como na exploração abusiva da mão de obra humana. Segundo o arquiteto, isso limita o investimento em pesquisas sustentáveis e inovadoras no ramo da construção civil e faz com que a arquitetura esteja refém de métodos ultrapassados, principalmente, do ponto de vista ambiental.
“Acredito que a missão dos arquitetos, principalmente dos mais jovens, seja a de incentivar diretamente o uso de tecnologias mais adequadas às atuais necessidades globais. Para isso, é necessário que rompamos as barreiras culturais impostas pelo mercado brasileiro da construção civil. Tal incentivo é imprescindível para que, a longo prazo, consigamos fazer que os métodos racionais e ambientalmente sustentáveis sejam mais economicamente viáveis, para só então serem considerados meios totalmente sustentáveis, de fato”, argumenta.
Os métodos de financiamento para a inovação em arquitetura e construção civil ainda são, de acordo com o engenheiro, em sua maioria, vindos da iniciativa privada. Isso porque os órgãos públicos são pautados pela manutenção das tecnologias existentes e inadequadas.
“A dificuldade e engessamento destes processos de financiamento e apoio e a inovação fazem com que as construções de qualidade e ambientalmente sustentáveis sejam acessíveis a poucos em nosso país. Para mudar tal cenário, um longo debate público e alterações no estatuto das cidades e demais legislações são estritamente necessários”, explica Rafael.
A arquiteta Aline aponta que cidades ou residências que visam ser mais sustentáveis devem levar em consideração desde a concepção do projeto arquitetônico até a finalização da obra.
“A otimização de recursos naturais e o menor impacto ao meio ambiente devem ser pensados, aproveitando as condições climáticas e o que é oferecido no entorno do edifício, reduzindo o uso e desperdício de materiais de construção e do consumo de energia, aproveitando a luminosidade, ventilação e calor natural, reuso de água de chuva, aquecimento solar, uso de materiais ecológicos e por fim, a destinação adequada dos resíduos, podendo resultar na reciclagem ou reutilização dos mesmos”, argumenta a arquiteta.
Revisão: João Guilherme